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A diferença inconciliável entre Dugin e Guénon



Uma transposição das leituras dos pensadores tradicionalistas René Guénon e Julius Evola para a Geopolítica colocam ambos em conflito - não mera discordância, mas conflito de fato, que repercute na obra do geopolítico russo Alexandr Dugin. Guénon era crítico do colonialismo Ocidental, mas, quando se referia a "Ocidente", queria dizer, dentre outras coisas, o Norte Global. Guénon inclui, por exemplo, o Japão Imperial na crítica.


Fazia isso porque acreditava que os países nordicos, e seu imperialismo contemporâneo, expressavam nesse ciclo a rebelião dos Ksatryas [varna associada, na doutria de castas da Índia, ao poder temporal, à atividade militar e à ordem civil] contra autoridade espiritual dos brâmanes [varna associada aos sacerdotes, intelectuais, mistagogos e professores]. EUA, França, Alemanha, Rússia, Japão, com toda sua apologia da guerra, controle político e do domínio material, estariam em "desordem" e espalhando o caos. Já o "Oriente" de Guénon incluía o que chamamos de Sul Global. Eram as civilizações tradicionais no sentido também de manterem a correta hierarquia das varnas. Eram civilizações "brâmanes", sacerdotais, ou, no jargão guenoniano, que colocam a intelectualidade e a contemplação acima da ação material, do ímpeto de expansão etc. O modelo, para Gúenon, era Índia, China, os países muçulmanos - que deviam ser protegidos da invasão vinda do Norte e que trazia barbárie.


É um aspecto inconciliável entre Dugin e Guénon. O primeiro é explicitamente um defensor do Norte Geopolítico justamente por concordar com a preeminência dos Ksatryias, que ele considera detentores da real iniciação gnóstica. A defesa de um Mundo Quadripolar por Dugin, com todas as civilizações dominadas por 4 pólos estratégicos e militares do Norte [EUA/Inglaterra, França/Alemanha, Rússia, Japão] é a tradução dessa versão de Tradicionalismo segundo a linguagem de Haushofer etc.


Boa parte da obra de Guénon vai na direção contrária e se esforça para denunciar esse estado de coisas. Aliás, um dos elogios que Guénon faz à China é quanto ao seu caráter, segundo ele, pacífico. Os chineses seriam amantes da paz, ainda que tivessem de pegar em armas quando necessário. E mais: criticava o Japão por seu temperamento similar aos ocidentais, por seus "excessos rajásicos".

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