Quando da queda de Assad, listei duas possibilidades para a omissão russa:
fraqueza explícita de um país que, até ontem, se vendia como ''polo global'' [de poder] - mas que se via, na verdade, incapaz de resistir à investida de ''rebeldes'' mal armados que marchavam rumo a Damasco;
acordo dos russos com Israel e outros atores para entregar o regime de Assad em troca da manutenção de suas posições estratégicas, principalmente da base naval que lhe permite ter acesso ao Mediterrâneo Oriental e à África.
Bastou um pronunciamento oficial de Assad para que russófilos começassem a propagandear que os russos "jamais" deixariam um aliado de lado - o que é nonsense, já que Assad está hoje na própria Rússia. Ele, afinal, fugiu da Síria a partir de uma base russa que garantia sua segurança pessoal e, até pouco tempo, seu poder. Ou seja, sua dependência pessoal em relação a Putin é explícita e inegável. Toda e qualquer declaração dele tem de ser vista a partir desse contexto.
De todo modo, o esforço dessa gente em "provar" a suposta lealdade russa a Assad só termina por reforçar a outra alternativa: os russos não têm poder real fora de seu quintal imediato; não têm bala na agulha pra posarem de ''centro de uma resistência global anti-americana''.
É claro que as duas alternativas que coloquei acima são conciliáveis. O caso de Assad demonstra ambas: a fraqueza do país e a quase certa ocorrência de um acordão. Não à toa, as principais posições russas na Síria continuam intocadas pelo novo governo e devem permanecer assim até o dia em que a posição do HTS esteja suficientemente consolidada - um dia que pode não chegar nunca.
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