Antônio Conselheiro, nascido Antônio Vicente Mendes Maciel, em Quixeramobim, Ceará, e falecido no Arraial de Canudos em 22 de setembro de 1897, se desterrara do Ceará, mergulhando em vida errante, à guisa de monge do deserto. Escoltado por uma turba extasiada, fixou-se no sertão baiano, onde ergueu, à margem do rio Vasa Barris, o Arraial de Canudos.
Poucos anos depois do fim da escravidão, fazendeiros das cercanias perdiam mão-de-obra barata para o povoado de Canudos, pois Conselheiro "abria aos desventurados os celeiros fartos pelas esmolas e produtos do trabalho comum".
Sebastianista empedernido, Antônio Conselheiro vaticinava que D. Sebastião acabaria com a Lei do Cão, a saber, o casamento civil ou o regime republicano, que não vinha dando conta das necessidades mais prementes dos ex-escravos e dos sertanejos. Os conselheiristas cantavam:
"D. Sebastião já chegou
E traz muito regimento
Acabando com o civil
E fazendo casamento.
Visita nos vem fazer
Nosso Rei D. Sebastião.
Coitado daquele pobre
Que estiver na lei do cão!"
O Arraial suscitou quatro expedições militares e o emprego de moderna artilharia e de petardo.
Para Ariano Suassuna, a pulverização do Arraial se somou à economia entreguista e insensível de Campos Sales e Joaquim Murtinho, precursora da de Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan. Bolsonaro e Guedes aprofundaram essa economia perversa. E há quem diga que a Nova República seja um aggiornamento da República que destruiu com fogo o povoado de Antônio Conselheiro.
Canta Ivanildo Vila Nova:
"Uma mancha no nome do Brasil
Mas talvez que no ano de dois mil
Esse nosso nordeste brasileiro
Seja outra Canudos por inteiro
Mais gente, mais garra e mais coragem"
E nós cantamos juntos -- provavelmente sem a mesma métrica:
Que esse nosso Brasil altaneiro
Seja outra Canudos por inteiro!
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