Há 96 anos, nascia na Parahyba do Norte, capital do estado da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna. Poeta, dramaturgo, romancista, artista plástico, membro da Academia Brasileira de Letras, ex-secretário de Educação e Cultura do Recife, ex-secretário de Cultura de Pernambuco, sua obra é tão vasta quanto repleta de tantas camadas.
Ou melhor, ele próprio teve vida como obra de arte, pois sua obra como a conhecemos não seria possível sem a tragédia que acometeu sua família, o assassinato de João Suassuna, seu pai, em 9 de outubro de 1930.
Embora enfatizem o brincante e o riso em sua obra, não podemos lê-la despida de sua dimensão trágica, que constitui unidade com aqueles.
Em sua obra, o Rei e o Palhaço são imagens de um país regido pela dialogia Dionísio-Apolo.
Ainda assim, o riso é desconcertante, como bem apontou Ester Suassuna Simões, neta do escritor e professora da UFRJ.
Em um Sertão de "reis" ou de orgulhosos senhores feudais como José Pereira, profetas, cangaceiros, ciganos, cantadores e de "teodoras", Ariano Suassuna compreendeu que, sendo o homem o mesmo em qualquer lugar do palco do Mundo, os dramas vividos pelos sertanejos são iguais aos de qualquer ser humano, são, acima de tudo, atemporais, tanto que a dialogia Rei-Palhaço pode ser vista no filme "Kagemusha", de Akira Kurosawa. À beira da morte, um poderoso senhor feudal (daimiô) ordena que seu falecimento seja mantido em sigilo e ele deve ser substituído por um sósia -- um ladrão de espírito "brincante".
Ariano Suassuna granjeou renome contribuindo para modernizar o teatro brasileiro, embora tenha sido uma modernização calcada na do espanhol Federico García Lorca, influenciada pela cultura cigana da Andaluzia, quer dizer, o teatro do brasileiro é calcado na cultura popular com acento de folheto de cordel. Na prosa de ficção, destaca-se "O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", para muitos um romance tão genial quanto um "Grande Sertão: Veredas". Idealizou o Movimento Armorial, lançado com o intento de, nas suas palavras, "realizar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura". Na década de 1980, lança álbuns de "iluminugravuras", pranchas que integram seus trabalhos de artista plástico e de poeta, contendo poemas manuscritos e ilustrados, unindo a gravura em offset à pintura sobre papel, processo que lembra o das chapas coloridas (illuminated printing) de William Blake.
Blake & Suassuna - visonários.
A Onça do Divino & o Tigre - "tocha tesa".
Depois dessa breve digressão, concluímos que Suassuna é um dos decifradores do Brasil em geral e do Sertão em particular, súmula do drama humano, impondo-lhes um sentido e imagens.
Durante as festas juninas, as fogueiras simbolizam a Terra se revelando "sob o signo do fogo, ação purificadora e iluminadora", assim como "retroação obscura e destruidora", de acordo com ele e com a escritora Aparecida Nogueira, autora de "O Cabreiro Tresmalhado".
Temos aí a Terra e a Tradição viva representada pelo fogo. E o Pão alegoriza a justiça social, o protossocialismo cristão organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Pão, Terra e Tradição alegorizam o Brasil, o imenso Arraial de Canudos.
As três imagens alegorizam e são súmula do destino dos Povos sulistas do Mundo.
Portanto, Ariano Suassuna é
Pão, Terra e Tradição!
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