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Foto do escritorAndré Luiz V.B.T. dos Reis

Até Dugin admite que a Rússia está enfraquecida - os russófilos deliram, como sempre

Em sua conversa (vide abaixo)com o importante cientista político norte-americano John Mearsheimer (da vertente do Realismo em Relações Internacionais) há duas semanas, o geopolítico russo Alexandr Dugin [que é frequentemente chamado, de forma incorreta, de "cérebro do Putin"] admitiu que a China tem muito mais peso na construção do mundo multipolar do que a Rússia. Dugin admitiu também que a Rússia não se compara aos dois grandes polos da geopolítica, que são EUA e China, apenas ressalvando que a Rússia também ''não é um nada'' e que tem lá ''armas nucleares'' pelo menos.



O debate entre Dugin e Mearsheimer, promovido pela China Academy


Dugin reconhece ainda que teve de revisar suas posições sobre a China. Como avisei em minhas análises, publicadas no meu blog, ele tinha uma percepção extremamente negativa da China: considerava a China um poder 'do Sul' e, portanto, menor. Seria um país cujo peso deveria se ajustar às áreas meridionais, deixando a Manchúria para a Rússia. O grande pólo no Extremo Oriente, nas obras de Dugin até dez anos atrás, deveria ser o Japão.


Por fim, Dugin diz que o leste da Europa é menos estratégico para a Rússia que a Ucrânia. Que a Rússia não pode admitir uma Europa Oriental hostil, mas isso ainda é uma questão de segunda importância quando comparada à Ucrânia. Mearsheimer então manda a real, como se diz:


"Os russos não tem capacidade militar de conquistar nem mesmo a Ucrânia. Estão com dificuldades para ocupar o leste do país".


Ou seja, segundo Mearsheimer, os russos não são ameaça militar real para a Europa Oriental por falta pura e simples de poder suficiente. O cientista política americano acrescentou ainda o seguinte: os russos ocuparam a Europa Oriental durante a Guerra Fria, e isso foi um pesadelo para eles, de modo que Putin imaginar fazer isso hoje seria um delírio. Acrescentou também que ocupar mesmo o leste da Ucrânia vai trazer um mar de problemas para os russos.


Dugin simplesmente concordou. Não fez qualquer ressalva. Admitiu portanto a fragilidade do próprio pais para PROJETAR PODER NO LESTE DA EUROPA. Admitiu também a fragilidade do próprio país para PROJETAR PODER NA TOTALIDADE DA UCRÂNIA. E, claro, colocou em parênteses toda sua construção teórica a respeito de um Império Russo se expandindo pela Eurásia, que é o eixo de suas obras.


Porém, os russófilos acham que não. Segundo eles, a Rússia está ''bombando''. Pior ainda, está, segundo eles, "massacrando" a OTAN. E onde os russos estão "massacrando" a OTAN? No leste da Ucrânia, poucas centenas de quilômetros da fronteira russa, e em Kursk.... É o típico caso de cegueira intencional, a pior cegueira possível, a do sujeito que se recusa a enxergar. Não custa lembrar que a Suécia entrou para a OTAN em 2024, algo que os russófilos se recusaram a acreditar que estava acontecendo até o momento final. A invasão à Ucrânia precipitou a expansão da OTAN para áreas extremamente sensíveis para a Rússia.


Enquanto isso, Putin se retira da Armênia, se retira da Síria, torce desesperadamente pela eleição de Trump (como torceu) e convive agora com atentados terroristas que matam generais russos em plena Moscou. Não se trata de um atentado terrorista qualquer, aliás: é o alto escalão do Exército russo alvejado na capital do próprio país, sob as barbas dos serviços de inteligência, em uma cidade que foi construída e é mantida como uma grande fortaleza militar.


Essas considerações breves colocam a questão em uma perspectiva realista. A Rússia atualmente luta por sua sobrevivência como poder regional. E, nesse ponto, os russos merecem toda a simpatia dos anti-imperialistas. Afinal, são sim um país sob cerco. Mas não estão isentos de responsabilidade, pois os russos sempre foram uma potência expansionista, como a própria anexação de territórios ucranianos revela. Não é possível considerá-los no mesmo barco da América do Sul, ou da Palestina, ou da África, ou ainda do Irã e da Índia nesse ponto. Nem esperar que eles sejam os líderes de uma resistência mundial anti-globalista e anti-imperialista, pois aí já é insanidade pura e simples, o tipo de delírio de saudosistas da Guerra Fria.


Mas a União Soviética já acabou. E não deveria despertar saudade nenhuma.

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