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Bolsonaro não criou o "bolsonarismo"

Nota do Sol da Pátria: o texto abaixo é uma atualização de dois textos originalmente publicados em novembro de 2022 - e que permanecem relevantes


Escrevi, em 2022, que núcleo duro das aglomerações que estavam acontecendo não era composto propriamente de "bolsonaristas", daí a ausência do nome do então Presidente em muitas das manifestações naquela época. Trata-se um movimento mais antigo, chamado de "intervencionistas" [aqueles que defendem uma "intervenção militar"], e que se tornou visível desde 2015, ainda na crise do segundo mandato da então presidente Dilma Rousseff. Em novembro de 2016, chegaram a invadir o plenário da Câmara dos Deputados em episódio muito obscuro.



Esses grupos se uniram com o chamado "bolsonarismo", mas não se sinonimizam a ele exatamente. São reacionários anticomunistas ferrenhos e anti-política, que acreditam em um governo militar salvador. Não são controlados totalmente por Bolsonaro.



Os intervencionistas têm grupos de dezenas de milhares de pessoas, até centenas de milhares [havia grupos com 800 mil integrantes em 2016], no WhatsApp desde 2014. São bancados por empresários, a maioria do Sul e Sudeste. Eles têm boa articulação com caminhoneiros desde as greves no governo de Michel Temer. Embarcaram no "bolsonararismo" porém possuem agenda própria. São a real direita autoritária, que quer ser governada por generais.



É necessário entender que o "bolsonarismo" é antes uma confluência de tendências mais ou menos autônomas. Os intervencionistas são uma delas.


***


A estratégia de comunicação de Bolsonaro era extremamente eficaz porque se aproveitava de dois grandes troncos fora da grande mídia corporativa e com profunda capilaridade social.


O primeiro deles é o conjunto de grupos criados pelos intervencionistas nas redes, e que remontam a a 2013/2014. Alguns destes grupos chegavam a 600 mil, 800 mil membros na época, e sempre foram financiados por empresários. Essa rede, note-se, é anterior à ascensão de Bannon[1] nos EUA, e ela mais criou o "bolsonarismo" do que foi criada por ele.


O segundo tronco é o de algumas redes evangélicas, que bombam todos os dias em todas as esquinas dos bairros populares das metrópoles, compartilhando valores específicos e criando quase que uma imensa bolha político-social capaz de mobilizar dezenas de milhões de votos, e perto da qual a esquerda tuiteira não passa de meia dúzia de gatos pingados.


Estes troncos são independentes, mas podem criar intersecções por diversas razões. Bolsonaro foi avatar político destas forças, não seu construtor. Elas podem facilmente criar outro avatar político se as condições permitirem. Elas são, sim, profundamente antissistêmicas: desconfiam de todos os mediadores do sistema, já não são atraídos pelo mito pequeno burguês da nova República, e desejam confronto com seus representantes.


As instituições que gozam de maior confiança da população são as igrejas e as Forças Armadas. E taisredes de comunicação expressam esta realidade, bem como a profunda crise de legitimidade em que passamos a viver. Quem não decifrar a esfinge será engolido por ela.



As opiniões expostas neste artigo não necessariamente refletem a opinião do Sol da Pátria


Notas

  1. Steve Bannon é um investidor, executivo de mídia e estrategista político que atuam como estrategista-chefe durante apenas os primeiros sete meses do governo de Donald Trump (empossado em 2017). Bannon é o fundador do síte "Breitbart News", que era considerado uma plataforma da alt-right ou nova direita alternativa nos EUA

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