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Brasil-Império e Brasil-Nação

A ideia do Império do Brasil NÃO estava ligada à de uma "expansão ilimitada de fronteiras", de um "domínio cósmico" e outras bobagens. Desde o princípio, o Império do Brasil modificou profundamente a visão tradicional lusitana [anterior à Ilustração], que vinculava a Monarquia ao "orbe cristão".


O Império foi associado à ideia de um território específico e a uma NAÇÃO, a brasileira, que não deveria focar em expansão externa, mas expansão interna, e que se definia pela participação em um sistema internacional de NAÇÕES. Como diz o historiador Ilmar Rohloff Mattos:



"A associação entre Império do Brasil e Nação brasileira atribuía um significado novo à noção de Império, sublinhando uma singularidade. Esta consistia tanto no lugar reivindicado para o Império pelos dirigentes imperiais no conjunto das Nações civilizadas, o qual se desdobrava numa determinada concepção de ordem, quanto na impossibilidade de um domínio ilimitado. O que acabava por reservar um valor especial ao território unificado e contíguo, elemento fundamental na definição de brasileiro que não mais deveria se restringir a uma dimensão política. Mas isto não era tudo. A associação entre Império do Brasil e Nação brasileira era propiciada pela construção do Estado imperial. E esta construção, por sua vez, impunha a própria constituição da Nação. À dominação das demais “nações” [nota: escravizados africados] somava-se a direção pelo Governo do Estado daqueles brasileiros em constituição, o que implicava um padrão diverso de relacionamento entre aquele governo e o da Casa, “quebrando” as identidades geradas pela colonização, por meio da difusão dos valores, signos e símbolos imperiais, da elaboração de uma língua, uma literatura e uma história nacionais, entre outros elementos. Impossibilitado de expandir suas fronteiras, o Estado imperial era obrigado a empreender uma expansão diferente: uma expansão para dentro. E aí reside o traço mais significativo na construção de uma unidade. Situados naquela “outra cidade” [nota: Rio de Janeiro], com sua fisionomia nova, os dirigentes imperiais orgulhosos da construção empreendida pareciam admirar as figuras de José Bonifácio e Evaristo da Veiga, três décadas após ter raiado a liberdade no horizonte do Brasil."


O Brasil não é pra amadores e não pode ser compreendido por chavões e esquemas simplistas. O Império do Brasil foi desde sempre um Estado-Nação, e este Estado-Nação foi desde sempre pensado e construído segundo um determinado imaginário imperial. E não há contradição entre ambos.

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