Na noite desta terça (21 de maio), o Sol da Pátria promoveu a live: “O Destino Caboclo num país em preto e branco” com a participação de Uriel Araujo, e Leandro Altheman e o convidado, o pesquisador Leonardo Rocha.
Ser mestiçado não é um ‘não-lugar’; é todo lugar!
Leonardo Rocha estuda especificamente a questão da identidade cabocla brasileira e o processo de apagamento - face especialmente ao Estatuto da Igualdade Racial que contabiliza, compulsoriamente, os autodeclarados pardos (mestiços) do IBGE como ‘negros’, o que tem trazido consequências negativas para a população cabocla e parda em geral.
Art. Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial (...)
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: (....)
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; Fonte: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm
A conversa foi uma segunda parte de uma live anterior, na qual Leonardo Rocha já havia apresentados dados concretos que demonstram de maneira inequívoca, a maioria da população cabocla compondo o atual quadro de ‘pardos’ nos estados do Norte, parte do Nordeste e Centro-Oeste, afastando o mito da maioria negra do país, o que resulta em uma leitura do perfil racial brasileiro que simplesmente não corresponde à realidade dos fatos, em país historicamente miscigenado e com a presença de um elemento ameríndio e caboclo que não pode ser apagado.
A live anterior - parte I da conversa
A existência de uma ou mais identidades brasileiras, depende diretamente do conceito de mestiçagem. Sem mestiçagem, literalmente não há Brasil.
Na live desta última terça-feira, continuação da conversa, os participantes expandiram o debate para além das fronteiras da miscigenação ‘racial’, abordando também aspectos da ‘mestiçagem cultural’, que compõem e performam a cultura e identidade brasileira. Não há escapatória: ser mestiçado não é um ‘não-lugar’; é todo lugar!
Muito embora a definição de ‘caboclo’, acabe por ofuscar diferenças regionais significativas que existem, por exemplo, entre o caboclo ribeirinho amazônico e o caboclo sertanejo nordestino, ou mesmo os caboclos serranos, pantaneiros, pampeiros, fronteiriços, litorâneos (caiçaras); é possível atestar elementos comuns e uma comunicabilidade entre essas diferentes populações.
Em “Formação do Povo Brasileiro”, Darcy Ribeiro explicita diferentes perfis regionais dos ‘Brasis’: O Brasil Gaúcho, Caboclo, Caiçara, Nordestino, e assim por diante. As diferenças são dadas sobretudo pela adaptabilidade cultural aos diferentes meios geográficos. Contudo, extrapolando Darcy, é possível avistar elementos comuns que perpassam as diferenças.
Uma delas, é que todas essas identidades são criadas, construídas, inicialmente a partir da mestiçagem do elemento ibérico-português com o indígena, sendo este último, já extremamente adaptado a cada realidade.
A existência de uma ou mais identidades brasileiras, depende diretamente do conceito de mestiçagem. Sem mestiçagem, literalmente não há Brasil.
Na visão de Darcy, o caboclo é portanto, o primeiro brasileiro. Gaúchos, caiçaras, os cabras do nordeste, sertanejos; todos são diferentes versões de uma mesma ‘caboclidade’ por assim dizer.
Uma ‘caboclidade’, diga-se de passagem, que já herda dos mesmos povos indígenas, a capacidade de cruzar fronteiras ambientais e culturais, o interesse em conhecer e absorver elementos do ‘outro’, ao mesmo tempo em que este ‘outro’ é familiarizado por meio de um princípio de amansamento com profundas raízes nas cosmovisões nativas e que persistem ainda hoje na sociabilidade brasileira como um componente de longa duração.
Confira a live aqui.
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