Em live transmitida pelo canal do Sol da Pátria, o cineasta Newton Cannito abordou questões cruciais sobre o cinema brasileiro, a cultura nacional e sua oposição ao movimento "woke". O artista é roteirista da cinebiografia Silvio (sobre Sílvio Santos, em cartaz nos cinemas) e é conhecido por obras como Magal e os Formigas e documentários premiados como Violência S.A. É também autor, juntamente com Josias Teófilo, do Manifesto pela Liberdade de Criação Artística., que denuncia a censura woke e tem repercutido bastante nos meios artísticos e culturais.
Cannito se apresenta como alguém apaixonado pelo Brasil, afirmando que sua obra busca uma reconexão com o que ele considera serem as raízes autênticas da cultura brasileira. Foi enfático ao criticar o que vê como uma colonização ideológica:
"Geralmente essas patrulhas ideológicas estão com ideologias importadas, financiadas por alguma potência imperialista, querendo dominar a nossa mente, [para] não deixar o nosso povo pensar livremente."
Cannito destacou que o cinema brasileiro perdeu o contato com o público ao tentar impor discursos alheios à realidade nacional. "Os filmes estão todos baseados nessa ideologia. Isso não é bom, não está atingindo o público, está afastando o público do cinema." Para ele, o cinema de sucesso no Brasil precisa "ouvir realmente o povo brasileiro", sem preconceitos ou polarizações ideológicas.
Segundo Cannito, obras que dialogam diretamente com as preocupações e valores do povo, como as antigas produções de Dias Gomes e o humor popular das comédias de massa, têm o potencial de recuperar o papel do cinema nacional. Um dos momentos mais marcantes da live foi quando Cannito falou sobre Glauber Rocha, a quem considera uma grande referência.
"O Glauber é um inventor do Brasil. Ele era mais do que um cineasta, ele foi um profeta, um criador de uma visão de nação. Precisamos de mais pessoas assim, verdadeiros criadores."
Citando uma das profecias de Glauber, Cannito ressaltou a importância da união de diferentes visões para que o país prospere: "O Brasil vai dar certo quando os Y se unirem", em referência ao diálogo que Glauber defendia entre Darcy Ribeiro e Golbery, personagens divergentes da política nacional.
Ao longo da live, Cannito fez um apelo para que a arte brasileira recupere sua capacidade de unir a população e superar as polarizações. Ele defendeu a criação de filmes que resgatem o humor e a sátira popular, elementos que, segundo ele, estão desaparecendo do carnaval e do cinema contemporâneo.
"O brasileiro é um povo que prefere ser aquela metamorfose ambulante", afirmou, ao citar Raul Seixas e defender que a verdadeira identidade do país está na capacidade de adaptação e transformação.
O papo, desconstraído, incluiu pornochanchada, politicamente correto, a relação entre o regional e o universal, a crise mundial do cinema e as contradições da política, que não pode ser plenamente apreendida por uma dicotomia simplista como a clivagem esquerda-direita - como diz Cannito: "não sou Saci pra andar com uma perna só".
A live foi uma verdadeira provocação ao cenário cultural atual, com Cannito convocando o fim do controle ideológico que, em sua visão, limita a criatividade dos artistas brasileiros.
"A arte é feita na contestação", declarou, destacando que o cinema precisa recuperar sua liberdade para ser verdadeiramente popular e relevante tanto no Brasil quanto no exterior.
Confira a live aqui.
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