Há 89 anos, Getúlio Vargas era eleito Presidente da República pela Assembleia Constituinte de 1934, derrotando seu antigo protetor Borges de Medeiros. Iniciava-se assim mais uma etapa da Revolução Nacionalista que construiu o Brasil moderno. Há muito debate sobre os princípios que fundamentaram o processo revolucionário getulista.
Ainda que "castilhista", o pai do Trabalhismo era filosoficamente mais saint-simoniano que qualquer outra coisa, segundo as palavras dele próprio a Décio Freitas, em 1945, quando perguntado se lia muito Comte:
"Nem tanto. Saint-Simon foi o meu filósofo. Na minha juventude, eu o li exaustivamente. Mandei vir da França uma edição completa das obras dos saint-simonianos: mais de quarenta volumes, editados em Paris, nos meados do século passado. Não li todos os volumes, mas li muitos. Quem me influenciou foi Saint-Simon, não Augusto Comte. Os que conhecem estes filósofos, sabem que houve entre eles diferenças muito importantes" (FREITAS, 1991, p. 102).
Vargas foi bastante influenciado por uma tradição de socialismo ''utópico'' [assim rotulado pelos marxistas]. Ele próprio se dizia um tipo de socialista:
"Impera no Brasil essa democracia capitalista, comodamente instalada na vida, que não sente a desgraça dos que sofrem e não percebem, às vezes, nem mesmo o indispensável para viver.
Essa democracia facilita o ambiente propício para a criação dos trustes e monopólios, das negociatas e do câmbio negro, que exploram a miséria do povo. Tira o que foi cedido ao Estado para entregar ao monopólio de empresas particulares.
Ou a democracia capitalista, compreendendo a gravidade do momento, abre mão de suas vantagens e privilégios, facilitando a evolução para o socialismo, ou a luta se travará com os espoliados, que constituem a grande maioria, numa conturbação de resultados imprevisíveis para o futuro.
Essa espécie de democracia é como uma velha árvore coberta de musgos e folhas secas. O povo um dia pode sacudi-la com o vendaval de sua cólera, para fazê-la reverdecer em nova primavera, cheia de flores e de frutos.''
Getúlio num comício em Porto Alegre, 29 de novembro de 1946, in “Getúlio Vargas“, org. Maria Celina D’Araujo, Edições Câmara, 2011, pág. 516
O socialismo saint-simoniano pretendia organizar a sociedade em torno das classes produtivas, em detrimento daquelas que ele chamava de parasitárias. Essa ideia ecoa na tradição trabalhista e em discursos de Leonel Brizola. O "industrialismo" estava também vinculado a um certo humanismo cristão de cores místicas reivindicado por Saint Simon, que também criticava o excesso de intervencionismo do governo na economia.
Estes elementos permanecem como basilares na concepção getulista que levou cidadania às classes populares e crescimento econômico a toda nação. E devem ser revisitados por todos aqueles que desejam tirar o Brasil do atual atoleiro.
PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!
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