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Getúlio Vargas: para sempre no coração das massas

O dia 24 de agosto nos traz sentimentos contraditórios. Por um lado, podemos ver na data uma imensa vitória do povo brasileiro. Por outro, é o dia da perda de Getúlio Vargas, Herói da Pátria e Presidente que fundou a democracia social, industrializou o país e nacionalizou o Estado.


Traído por muitos, acuado pela grande mídia e pela burguesia entreguista, perdendo o poder para um arremedo de governo policialesco nas mãos de oficiais superiores da Marinha, e recebendo um ultimato do Exército, Getúlio Vargas e seu projeto pareciam ter falhado diante de seus inimigos liberais, encarnados na figura de Carlos Lacerda. Enquanto seu gabinete de crise, incluindo sua filha Alzira, tentavam encontrar uma saída para o golpe, Getúlio tinha plena consciência de que até entre os que se encontravam no Catete e podiam mexer peças importantes do jogo havia os que comiam no prato dos inimigos da Pátria.


Os conspiradores comemoravam com taças de champanhe. A campanha urdida em cima do moralismo anti-corrupção, sempre presente no liberalismo conservador, foi eficiente ao angariar apoio de parte da classe média, mobilizada por meio dos grandes jornais. A tendência que ficaria conhecida como ''lacerdismo'' na vida política brasileira estava amadurecida. Ela iria crescer com apoio dos intelectuais da USP e cada vez mais da burguesia paulista, que já mirava uma associação com as multinacionais. Mas esta vertente entreguista não esperava a carta na manga que Getúlio jogou na mesa: suicídio acompanhado de uma carta-testamento que levou os mais desfavorecidos e as classes populares às ruas, em rebelião e desespero.


Para maior efeito, Vargas atualizou o imaginário cristão de nosso povo, dando ares de martírio ao ato, mostrando-o como escudo contra forças apátridas, tecendo analogias com a figura de Cristo e da eucaristia, e apontando para o sensível tema da escravidão, do inimigo externo e interno. Sua carta não é a de uma vítima, não era de rendição: ''E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória”, escreveu. A Carta-Testamento, um dos documentos mais importantes de nossa História, se tornou crucial, a partir de então, para o nacionalismo brasileiro.


Ao longo das décadas, alguns levantaram dúvidas sobre o suicídio, alegando que Getúlio teria sido morto, e que tudo não passava de uma armação. Mas depois da divulgação dos diários e correspondências do Presidente, essa hipótese se tornou indefensável. Vargas contemplou o suicídio como derradeira arma política em outras ocasiões, e chegou a escrever bilhetes e cartas com o mesmo teor daquela que acabou legando como ''testamento''. Foi assim no início da Revolução de 1930 e também quando lhe chegaram notícias da contra-revolução paulista, em 1932. Aconteceu também quando cresceram os boatos de que seria preso em São Borja, em 1946, por aqueles que queriam impedi-lo de retornar ao cenário político.


Longe de ser um ato impensado, fruto de decepção, frustração e devaneio, o tiro que Vargas disparou contra o coração foi objeto de reflexão por décadas, assim como a melhor maneira de atrair a fúria vingadora das massas que liderava. Sua mentalidade era um misto de Daimiô japonês e de Patriarca romano, para os quais a derrota final era inadmissível e qualquer mácula na honra inimaginável.


A Carta-Testamento de Getúlio consolidou o programa político que o trabalhismo revolucionário deve seguir. Poderes estrangeiros desejam submeter e espoliar a Pátria. Eles se unem com uma quinta-coluna de exploradores internos, sequiosos pela escravização do povo. O caminho para a vitória passa pelo nacionalismo, a industrialização, a soberania popular, a luta pela independência e pela liberdade. Este é o cerne do getulismo, que faz do trabalhador brasileiro o verdadeiro Poder Moderador da República, e não a súcia entreguista que instrumentaliza corporações do Estado monopolizadas por frações da elite, e que agem em porões similares aos do Galeão com o objetivo de sabotar o país.


O ato de Getúlio revelou para todos onde está, de fato, o verdadeiro poder: no coração das massas. É esta revelação que rompe as emoções ambíguas que nos são trazidas pelo aniversário do fatídico evento.


Pão, Terra, Tradição!

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