Com o fim do domínio colonial, a América Espanhola se fragmentou em diversos países. E mais ainda poderia ter se fragmentado. Mas a América Portuguesa, não. Alguma unidade mais forte do que muitos pensam ela devia ter para que as forças centrífugas não saíssem vitoriosas. E, notem, mesmo causas sócio-econômicas [escravidão, agro-exportação etc.] e institucionais [elite imperial, Exército etc.] são indissociáveis de horizontes culturais.
Aliás, a ode à mestiçagem [cultural e étnica] não foi uma criação de Gilberto Freyre. Ele não bebeu isso em Boas, embora tenha instrumentalizado o aparato conceitual de seu mestre estrangeiro. O ''equilíbrio de antagonismos'' na mescla brasileira, da qual Freyre afastou qualquer condenação racista, estava cimentada em práticas sociais profundas que mergulham na história da formação brasileira.
A unidade brasileira não foi uma ideia nacionalista criada do nada pra justificar algum regime. Era uma realidade política e social antes mesmo de existir nacionalismo deste tipo no Brasil. A recepção massiva dos conceitos de Freyre é a prova de que a intelectualidade brasileira já estava preparada e esperando uma síntese daquele tipo, que já tinha prefigurações também nas obras de certos autores, como Euclides da Cunha e Manuel Bonfim.
Freyre se equivocou em alguns pontos na elaboração de sua obra [focada em demasia em um luso-africanismo, que ele chamava de ''luso-tropicalismo'', e no litoral], mas muitas de suas intuições são avassaladoras e perenes.
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