Se livrar do identitarismo pós-pós não é agenda apenas conservadora, como muitos imaginam. É crucial para a sobrevivência da esquerda no Brasil. As décadas atuais tem sido marcadas por diversas tendências que assinalam uma crise de proporções apocalípticas para este lado do espectro político:
i. para cada brasileiro que se considera de esquerda, há quase dois que se considera de direita, o que trará consequências inevitáveis em eleições majoritárias;
ii. a percepção do que é esquerda mudou: ela e é cada vez menos identificada como o campo que luta pelos direitos dos trabalhadores e e percebido muito mais como um perfil de classe média pautado pela guerra cultural contra os valores populares;
iii. a transição religiosa evangélica consolidou uma rede infindável de igrejas capilarizada pelas classes populares e trouxe a militância religiosa definitivamente para o palco da política de massas. Os católico-romanos, por sua vez, estão cada vez mais próximos dos evangélicos em termos políticos;
iv. o envelhecimento da população joga a favor de um maior conservadorismo no campo do valores;
v. a agenda ''woke'' vem sofrendo derrotas importantes no país que a espalhou pelo mundo, os EUA: a Corte Suprema voltou atrás na imposição do aborto e ano passado proibiu o uso de cotas raciais para o preenchimento de vagas em universidades; Governadores Republicanos tem realizado uma militância intencionalmente contrária ao identitarismo de esquerda, respondendo o patrulhamento ideológico com um patrulhamento de sinal contrário e tem colocado a esquerda na defensiva no âmbito eleitoral.
vi. atualmente, a força eleitoral da esquerda no Brasil depende sobremaneira de Lula, um político de centro próximo dos 80 anos de idade. Não há nomes nesse campo com história e carisma o suficiente para sucedê-lo.
Se a esquerda não se desamarrar do patrulhamento neofascitoide daqueles comprometidos com a importação da ideologia identitária, tem de estar preparada para ser apeada definitivamente do poder nas próximas décadas. O campo de esquerda tem de redescobrir seu caminho na luta pela proteção do Trabalho, neodesenvolvimentismo econômico, construção de um Estado de Bem Estar Social, e afirmação da Soberania, frisando valores universais e solidários. Caso contrário, a derrocada será líquida e certa.
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