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Por que Moscou anistiou Prigozhin (grupo Wagner) e o enviou à Bielorrússia

Sol da Pátria - traduzido e adaptado de https://infobrics.org/post/38769


Muita coisa tem sido escrita sobre o motim de Yevgeny Prigozhin (líder do Grupo Wagner). Após a fracassada insurreição de Rostov, os amotinados entregaram suas armas e, em 27 de junho, o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko confirmou que Prigozhin estava na Bielorrússia (Belarus). As tropas de Prigozhin ocuparam, por um curto espaço de tempo, a cidade russa de Rostov-do-Don no mês passado, e o presidente Lukashenko, juntamente com o presidente russo Vladimir Putin, negociaram um acordo para colocar fim à situação.



Historicamente, a presença de grupos mercenários (com status jurídico que varia) em confrontos armados não é novidade, e fazer um estardalhaço sobre a presença desses grupos na Rússia só pode ser descrito como hipocrisia ocidental. A empresa militar privada americana Blackwater (como era chamada - foi renomeada Xe Services em 2009 e Academi em 2011) é conhecida, por exemplo, por sua participação no massacre da Praça Nisour em 2007, na cidade de Bagdá, Iraque.


Voltando à curta rebelião de Prigozhin, ao contrário do que afirma parte da mídia ocidental e autoridades dos EUA, como o secretário de Estado Antony Blinken, o episódio não necessariamente revelou a “fragilidade” de Moscou. O presidente russo sai até fortalecido, como escreveu o jornalista americano Seymour Hersh em 29 de junho:

“A revolta de Prigozhin fracassou em um dia, quando ele fugiu para a Bielorússia com a garantia de não ser processado, e suas tropas mercenárias foram incorporadas ao exército russo. Não houve marcha de rebeldes chegando em Moscou nem se concretizou ameaça significativa ao governo de Putin.”

Teorias da conspiração têm circulado - sem qualquer evidência, como acontece na maioria das vezes - defendendo que o motim do grupo Wagner em Rostov não passou de uma “psy-op” (“guerra psicológica”; do inglês: Psychological Operations - PSYOPS). No mundo real, quando um estado é bem-sucedido e eficiente em neutralizar uma crise e até mesmo obtém resultados favoráveis para seus interesses nacionais, isso obviamente não significa necessariamente que o estado fabricou toda a crise desde o início. Não obstante, parece que atualmente qualquer coisa é justificável em nome da russofobia: até mesmo acusar o presidente russo e importantes autoridades russas de conspirar com amotinados para matar pilotos russos.


De todo modo, o que podemos concluir sobre o papel da Bielorrússia nas negociações? Em 1º de junho, Lukashenko afirmou que o Ocidente estava tramando um golpe para derrubar seu governo - algo que sempre interessou ao Ocidente. Em 14 de junho, Lukashenko disse que seu país iria "encarregar-se” de lidar com os ataques e provocações dos sabotadores ucranianos, citando como exemplo as atividades ucranianas na região de Belgorod. Ele enfatizou, porém, que uma “agressão total” contra seu país, como o envio de “tropas”, e não apenas “pequenas unidades”, seria o mesmo que cruzar uma “linha vermelha”. No dia anterior, em 13 de junho, ele já havia dito que uma “agressão” contra a Bielorússia seria a única razão válida para o emprego de armas nucleares: “Acho improvável que alguém queira entrar em guerra contra um país que possui esse tipo de armamento. É uma arma de dissuasão. Deus me livre de precisar tomar a decisão de usar esta arma nos tempos atuais. Mas não hesitarei, caso haja uma agressão contra nós”.


Ao afirmá-lo, o líder bielorrusso deu a entender implicitamente que estava esperando que incursões como as de Belgorod ocorressem contra sua nação.


Em maio, escrevi sobre os planos mais ousados de Zelensky, que envolvem a ocupação de aldeias russas. De qualquer forma, Kiev parece ter começado a mobilizar organizações “proxy” para realizar atos de sabotagem em alguns oblasts (províncias) russos. Em 22 de maio, grupos de sabotagem ucranianos teriam tentado invadir a região de Belgorod, na Rússia, onde levaram a cabo ataques terroristas, como parte de uma tentativa de desviar a atenção da área de Bakhmut. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o objetivo era "reduzir o impacto político da derrota ucraniana em Artyomovsk".


Se algum grupo extremista bombardeasse um abrigo no Ocidente cheio de refugiados civis, isso certamente seria notícia no mundo inteiro - e ainda assim, na imprensa ocidental, pouco foi noticiado sobre o fato de um drone ucraniano ter bombardeado um abrigo que servia de moradia temporária para civis russos na cidade de Belgorod. Três pessoas morreram, incluindo uma criança, e pelo menos 11 ficaram feridas em decorrência do bombardeio.


Também foi relatado que as organizações paramilitares “Legião da Liberdade Russa” (conhecida em inglês como “Freedom of Russia Legion” – FRL) e o “Corpo de Voluntários Russos” (conhecido em inglês como “Russian Volunteer Corps” – RVC) foram os responsáveis pelo ocorrido em Belgorod. Esses dois grupos, situados na Ucrânia, assumiram a autoria dos ataques contra civis russos na região. A FRL foi classificada como grupo terrorista pela Suprema Corte da Rússia no início deste ano. O RVC, por sua vez, é liderado pelo infame neonazista Denis Kapustin, cujo grupo, recrutado nas fileiras de gangues hooligans, é considerado uma das organizações neonazistas mais perigosas do mundo, de acordo com o jornalista do Telegraph James Kilner. A agência de inteligência militar ucraniana confirmou que o RVC tem uma unidade dentro da Legião Estrangeira Ucraniana.


Em março, o RVC já havia assumido a autoria de ataques terroristas nas aldeias russas de Lyubechane e Sushany, no oblast (província) de Bryansk, que faz fronteira com a Bielorússia. É contra esse tipo de ameaça à segurança nacional e doméstica que o presidente bielorrusso Lukashenko pode estar preocupado - e o know-how e as habilidades dos combatentes do grupo Wagner certamente podem ser úteis.


Então, como afirma o analista político Andrew Korybko, na prática, “exilar” Prigozhin e seu povo para a Bielorrússia serve aos interesses russos e bielorrussos. Do ponto de vista russo, faz sentido parar uma rebelião e acabar com o derramamento de sangue e empregar os amotinados “anistiados” como capital humano a serviço de um estado vizinho aliado, como a Bielorrússia. Esses motivos - e não uma teoria da conspiração mirabolante - explicam a sugestão de Lukashenko, feita em 30 de maio, de que as forças bielorrussas poderiam aprender com a experiência de combate do grupo Wagner.


Nota da Sol da Pátria:


O artigo acima foi originalmente publicado em 05 de julho de 2023. Recentemente, foi noticiado que Prigozhin não estaria mais na Bielorrússia e sim teria retornado à Federação Russa, o que mostra que desenvolvimentos futuros desta trama são incertos e imprevisíveis e ainda há potencial para tensões. Em todo caso, publicamos esta tradução adaptada por julgarmos que se trata de uma análise interessante, sobretudo por destacar a atuação de grupos neonazistas no lado ucraniano (fato frequentemente negado no Ocidente) e também por criticar abordagens mais conspiracionistas.


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