Amácio Mazzaropi completaria 111 anos no último dia 9 de abril. Humorista, cantor, ator e cineasta, é considerado por muitos um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.
Seu grande mérito foi o de fazer da cultura caipira a personagem principal e o fio condutor de grande parte de sua obra. Desde pequeno, nas cidades paulistas de Taubaté e Tremembé, Mazzaropi teve contato, graças ao convívio com seu avô violeiro, com as tradições rurais. Esse contato, feito de maneira orgânica e sincera, foi o grande segredo de sua sensibilidade ao retratar a face, a alma e a visão de mundo do caipira. Só compreende em sua totalidade uma cultura aquele que a vivencia no cotidiano. Muitos podem pesquisar e opinar, mas só quem vive organicamente a cultura a compreende de verdade. Mazzaropi, sem dúvidas, foi uma dessas pessoas. Ele dizia não haver lugar melhor do que Taubaté para se fazer cinema, por causa da luz natural da região. Essa é a sensibilidade de um artista que sabe sentir a magia do Brasil Profundo.
Porém, antes do cinema, ele esmerilhou seu talento no chão do circo e no palco do teatro, percurso quase obrigatório no Brasil de antigamente. Também as duplas caipiras, fossem iniciantes ou consagradas, viajavam por todo o interior do país levando suas vozes duetadas junto com a alegria itinerante dos circos. Essa era uma vida que proporcionava algo que hoje em dia muitos artistas cosmopolitas e acadêmicos pedantes não conhecem: o contato direto com o povo das pequenas cidades. É assim que se aprende a criar uma arte que saiba falar a língua do povo. Mazzaropi, em sua vasta filmografia, foi genial em falar a língua do povo, em obras divertidas, singelas e tocantes como Candinho, O Vendedor de Linguiças, Chofer de Praça, A Banda das Velhas Virgens, O Jeca e a Freira, o belíssimo Casinha Pequenina e sua obra mais conhecida, Jeca Tatu. Talvez, por algum tipo de preconceito, os mais jovens desconheçam todos esses filmes, mas nunca é tarde para se permitir conhecer um dos maiores talentos que já viveu nesse país, um artista imortal nos mostrando que o Brasil é o país mais criativo, talentoso e fascinante do mundo.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o Brasil caipira retratado por Mazzaropi ainda existe, obviamente adaptado aos tempos que vivemos. Mas quem ainda vive no interior ou quem tem a coragem de sair de seus apartamentos para conhecer o próprio país poderá observar os mesmos valores e a mesma visão de mundo, ainda lutando para sobreviver. Aguardamos nas fileiras da Frente Sol da Pátria, para lutar ao nosso lado, todos aqueles que tem olhos para ver que a obra de mestres caipiras como Mazzaropi, Cornélio Pires, Tonico, Tinoco, Tião Carreiro, Valdomiro Silveira, Almeida Júnior e José Antônio da Silva é muito mais do que mera arte: estamos diante da alma sagrada de um povo, alma essa que deve ser protegida, promovida e lembrada. Disso depende a sobrevivência de nossa identidade, a face que Deus nos deu.
PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!
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