O nacionalismo brasileiro do Romantismo era indianista. Pode-se falar muito sobre o indianismo: é claro que havia nele muito de fetichização ingênua e uma noção de “bom selvagem” rousseauniana. Um resgate simplista cairia facilmente em caricaturas, enganos. De qualquer forma, é estranhíssimo que o meio nacionalista brasileiro hoje seja, em boa parte, tão anti-indígena. Não é só estranho: é lamentável. Digamos com todas as letras: falta pouco para que o meio nacionalista brasileiro hoje seja um inimigo dos indígenas, dos camponeses, do meio ambiente, das comunidades tradicionais.
O sono da razão produz monstros e também o sono da desrazão: por trás da utopia do desenvolvimento nacional pode se esconder um pesadelo distópico e genocida de chacinas, agrotóxicos desenfreados, mercúrio, câncer infantil, rios tingidos de vermelho ou marrom no qual boiam peixes mortos em meio a detritos. Por outro lado, por trás da utopia indigenista-ambientalista, espreita a internacionalização da Amazônia, a intervenção internacional, o separatismo inerno e o conflito étnico
Existem, hoje, no Brasil, “dissidentes” que se dizem nacionalistas (não são) e que defendem etnicizar a sociedade inteira rumo ao Estado plurinacional - exatamente igual propõem Vladimir Safatle e Marilena Chauí, o que é irônico. Isso um erro anti-Brasil: a grande maioria dos brasileiros não tem identidade étnica.
Porém, no meio nacionalista propriamente dito, existe outro extremo igualmente equivocado: negar os povos indígenas e minorias étnicas no país.
São dois erros vis que negam o Brasil. Mas falemos dos nacionalistas.
Não é exagero dizer que o maior problema do meio nacionalista brasileiro diz respeito à questão indígena, ambiental e rural (as três estão relacionadas). Ora, é verdade que não se pode demonizar nem a mineração nem o agro. A primeira tem importância estratégica: a mineração é necessária e deve ser, de preferência, estatal, impulsionada pela lógica do bem comum - e por isso foi um crime tão grande a privatização da Vale do Rio Doce. Igualmente estratégico é o agro, tanto aquele voltado à exportação quanto aquele que coloca comida no mesa dos brasileiros (em sua maioria vindo da agricultura familiar - que também é agro!). O Brasil precisa se reindustrializar e fortalecer sua indústria e indústria, aqui, deve ser entendida num sentido amplo, como setor produtivo, que também inclui o setor agrícola, capaz de gerar divisas fundamentais para o próprio esforço de reindustrialização em outros setores.
Se é um erro demonizar mineração e agro, isso não significa que seja justo defender mineração ilegal/garimpo e madeireiras ilegais. Essas atividades estão fortemente relacionadas à lavagem de dinheiro do narcotráfico, à lumpenburguesia e ao esgoto da sociedade, um poder paralelo crescente com tentáculos em parte da burocracia civil e militar.
São atividades criminosas de rapina, que dizimam comunidades, destroem, recursos naturais, insinuam-se nas cadeias produtivas de diversas empresas e capazes de criar problemas para as exportações brasileiras e sua economia. Cada vez mais, a União Europeia, Estados Unidos e China têm demandado a rastreabilidade total do gado, madeira e de outros itens, em termos de devida diligência, e por meio de diferentes legislações que tendem a obstaculizar e até banir produtos brasileiros associados ao desmatamento ilegal e invasão de terras indígenas.
Essas atividades ligadas ao crime organizado marginalizam o Brasil no cenário internacional, fornecendo “munição” para o discurso de internacionalização da Amazônia de ONGs e grandes potências, que tem a própria agenda de interesses e olhos nos recursos naturais da região amazônica. O ambientalismo do Norte global, dos países ricos, é hipócrita e usado como arma, sabemos disso, mas o que eles denunciam é muitas vezes real. Ora, para o Brasil reafirmar e exercer sua soberania plena, inclusive na Amazônia, o Estado deve assumir seu papel de guardião dos recursos naturais e das comunidades tradicionais.
É preciso denunciar, fiscalizar e regulamentar a ação de ONGs estrangeiras no Brasil e é também é igualmente necessário fiscalizar, regulamentar as atividades agropecuárias e de mineração e punir, com rigor, a mineração e desmatamento ilegal.
Todas as nações de tamanho continental possuem imensas áreas de baixíssima densidade populacional, ricas em recursos e com presença de populações tribais com diversos sistemas de parentesco, organização social e economia. É assim na Sibéria russa, nas pradarias canadenses, nos desertos mexicanos e dos Estados Unidos da América. Essas populações locais podem também atuar em cooperação com o Estado, como guardiões das áreas em que vivem e que conhecem bem, como já acontece no Ártico canadense e, de forma incipiente, no Brasil, com os batalhões e pelotões indígenas.
O Brasil é uma potência, que, no mundo “globalizado”, precisa de Forças Armadas bem aparelhadas e uma indústria robusta, para fins de vantagens comparativas e competitivas - do contrário, estará condenada a ser explorada pelos países ricos. Mas no mosaico de nossa formação econômica cabem diferentes setores, incluindo o artesanato, a caça, pesca e o extrativismo. A ideia de que o índio ou indígena, o caçador-coletor e o camponês vivem em um estágio “primitivo”, que deve necessariamente desaparecer e "evoluir" rumo à vida urbana assalariada (proletária) é, ironicamente, uma visão evolucionista-etapista marcadamente marxista. Nesse ponto, o marxismo "raiz" converge com a direita, e ambas com o processo de espoliação e fragilização do Estado-Nacional. Marxistas deste tipo e reacionários da direita gostariam ambos de ver os indígenas desaparecerem. É uma visão equivocada - e genocida.
Do outro lado, o ambientalismo-indigenismo radical, com o seu purismo e isolacionismo extremo e uma visão de reserva indígena como Apartheid também é pernicioso à nação. Ora, não é possível que só possa existir o indigenismo ambientalista caricato e, de outro lado, o “progresso” desenfreado, a contaminação de rios por mercúrio e o etnocídio de populações flageladas pela pistolagem, drogas, prostituição e desnutrição infantil.
Não é correto dizer que os indígenas vivam uma existência paradisíaca dentro de suas terras indígenas (não vivem e há vários problemas lá) e nem é correto defender a bandidagem mineradora e latifundiária ou a proletarização forçada de todos os indígenas, ribeirinhos, quilombolas e camponeses.
Vivemos uma época polarizada, de teses e antíteses extremadas que disputam o debate público, motivados pela ganância imoral do lucro inescrupuloso ou pelo idealismo radical anti-nacional - mas a Grande Síntese há de vir e, com ela, a integração nacional, fundamentada no Ordem, no Progresso e no Amor pelo Brasil, sua natureza e sua gente.
Kommentarer