É público e notório que o sistema político e institucional brasileiro buscou em Biden (e no seu Partido Democrata) apoio para dissuadir o golpismo em algumas hostes bolsonaristas.
Os detalhes no artigo do Financial Times, citado por Glenn Greenwald, são importantes: por exemplo, o papel de Arthur Lira e de Tarcísio nos recados diplomáticos enviados por Washington de que se deveria respeitar os resultados das eleições.
"O incômodo de Biden com a situação é ponto a favor da política externa levada à frente por Mauro Vieira e Celso Amorim, que continua colocando os interesses do Brasil à frente dos interesses de outras potências do Norte Geopolitico".
O mais importante está na exigência de Biden de que Lula reconheça o papel "dos EUA". A esquerda sempre associou os ianques a golpes na América Latina, e Biden está gritando, "está vendo aí: somos bonzinhos e incentivamos a democracia".
É um tipo de mensagem que a grande mídia brasileira está dando a Lula desde o início do governo. Eles entendem que é bom para o país se aproximar dos Democratas, ''garantidores'' da Nova República. E se aproximar dos Democratas, para a mídia corporativa e para Biden, significa apoiar a política externa ianque.
Os parágrafos finais da matéria deixam muito claro o incômodo de Biden:
“Para o governo Biden, as relações com o Brasil melhoraram, porém ainda existe atrito com o novo governo brasileiro. Lula mostrou pouco reconhecimento público pela campanha americana para proteger [contra um golpe] a eleição [brasileira], A primeira visita oficial de Lula a Washington, em fevereiro, foi coisa discreta que durou um dia só. Em abril, ele levou uma delegação grande para a China para um tour que durou três dias, visitando duas cidades. Nessa viagem, Lula rejeitou as sanções americanas à empresa chinesa Huawei, atacou o apoio militar do Ocidente à Ucrânia e apoiou as iniciativas de Pequim buscando alternativas ao dólar americano” (tradução nossa)*
Biden não se conforma com a política externa independente de Lula. Esperava maior apoio brasileiro ao embate americana contra a emergência da China e também maior apoio brasileiro aos EUA contra a invasão russa na Ucrânia.
O incômodo de Biden com a situação é ponto a favor da política externa levada à frente por Mauro Vieira e Celso Amorim, que continua colocando os interesses do Brasil à frente dos interesses de outras potências do Norte Geopolitico.
Aliás, a mídia corporativa do Brasil, o Partido Democrata dos EUA e seus elos no Brasil devem se lembrar que, se é verdade que o atual governo se aproximou de Biden para fazer frente às aventuras bolsonaristas, também é verdade que Bolsonaro, por sua vez, não só se aproximou dos Republicanos, imitando a retórica armamentista e evangélica do Texas, como imitou na cara de pau as artimanhas de Trump.
Não tem sentido nenhum fazer "dos EUA" o "guardião da Democracia" no Brasil sob este aspecto. E a espionagem da administração Obama em cima das estatais brasileiras, reveladas em 2013, além dos vínculos do “Deep State” ianque com a Lava Jato e o “lawfare” na América Latina durante o governo dos Democratas deveriam ser suficientes para nos precaver sobre a imagem que Biden deseja vender.
Nem Washington, nem Moscou, nem Pequim! Brasil em primeiro lugar!
*Texto original, em inglês:
"For the Biden administration, relations with Brazil have improved but there has still been friction with the new government. Lula showed little public recognition of the US campaign to protect the election. His first official visit to Washington in February was a low-key affair lasting a day. In April he took a big delegation to China for a three-day, two-city tour. On that trip, Lula rejected US sanctions on Huawei, the Chinese tech company, lashed out at the west’s military support for Ukraine and endorsed Beijing’s drive for alternatives to the US dollar."
Fonte: https://www.ft.com/content/07533564-2231-47a6-a7b8-2c7ae330efc5
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