Algumas lideranças russófilas dizem que “não há mais espaço a ceder”, e que o Brasil precisa tomar um lado, o do BRICS, fazendo deste grupo um escudo retórico para defenderem o apoio explícito à Rússia no conflito da Ucrânia.
Só que o BRICS não apoiou a Rússia na recente resolução da ONU. Só seis países tomaram esse lado: Eritreia, Nicarágua, Síria e Belarus entre eles. Os demais ou condenaram a invasão da Ucrânia [caso de alguns aliados históricos da Rússia, como a Sérvia] ou se abstiveram [caso de China e Índia].
Ora, o BRICS não tem um “lado geopolítico”, mas se tivesse, a resolução mostra que não é o mesmo da Rússia.
Essas mesmas lideranças sustentam que a posição dele é a dos “brabos”, como se fosse muito corajoso se alinhar a uma das grandes potências geopolíticas.
Mas a radicalidade não está ‘desse lado’. E sim na defesa dos próprios interesses e princípios, manifestando posição autônoma e voz independente diante dos ‘Barões do Mundo’. A Síria, por exemplo, não é um dos seis países do lado da Rússia por ser “braba” e “corajosa”, mas porque deve muito a Putin. Belarus não fica do lado de Putin por ser “brabo” e sim por déficit de independência em relação à Rússia.
A posição mais corajosa, o lado mais difícil, e por isso mesmo o mais sabotado, é aquele que não se abriga nas asas de nenhuma das superpotências, mas procura construir espaço próprio, um bloco que fundamente atuação própria no sistema internacional.
Se já não houvesse todos as demais razões, podemos acrescentar essa: só há um lado “brabo”, o do Não-Alinhamento Ativo e a da construção de um bloco anti-imperialista no Sul Global.
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