Nas Olimpíadas hoje, após a conquista de uma medalha segue-se uma disputa para definir o "campo de pertencimento do atleta". Não faz muito tempo em que a gente torcia para o brasileiro ou brasileira vencer a competição e vibrava com a medalha, de ouro, prata ou bronze, sem querer saber cor, raça, preferência sexual. Nestas olimpíadas (que serão lembradas na história pelo seu sequestro pela agenda woke), as coisas se passam de forma diferente: vencida a competição, tem início uma nova disputa, acirrada, a saber, uma sobre a qual "campo político" (ou de performance política, na verdade), pertence o vencedor.
"Mulher, negra e gorda", diz o título lamentável da Folha de S.Paulo, enquanto oculta o fato de que a vitoriosa é também sargenta do Exército Brasileiro e faz parte de um programa das Forças Armadas para atletas. A cor e aparência da atleta se evidencia na foto, de modo que sua repetição no título, longe de ser jornalismo, representa uma aposta mercadológica nas cisões e polaridades políticas e, sobretudo, identitárias.
O identitarismo woke pressupõe que nossa sociedade seja dividida entre identidades opressoras versus identidades oprimidas, sem se atentar ao fato de que somos todos, sem exceção, atravessados por diferentes "campos de identidades", o que não é diferente com nossa honrada medalhista.
A abordagem não se restringiu à judoca Beatriz Souza; na verdade, nenhum atleta brasileiro está isento do escrutínio político-ideológico-identitário, no tribunal das redes sociais e imprensa, que busca carimbar e sentenciar a que campo político pertence o atleta.
A cisão social promovida pelo identitarismo woke a partir de suas performances e narrativas, promove uma disputa para ver quem pode, ou deve, comemorar a vitória de uma brasileira - quando esta deveria ser comemorada por todos. Há um quê do aspecto doentio e decadente reproduzido desde a abertura do evento. Isso deveria ser motivo de repúdio por todos os brasileiros.
Cada um de nós, repito, é um complexo de identidades, categorias e pertencimentos - muitas vezes aparentemente incoerentes e conflitantes (para a lógica woke). Ninguém ocupa perfeitamente um dos polos morais estabelecidos pelo dogma woke. Assim, o título : Mulher, preta e gorda’ estaria tão correto quanto "Mulher negra cristã e militar", o que evidencia aí uma parcialidade que não é incidental.
Também não deixa de haver certa comicidade quando vemos o campo progressista, embriagado com identitarismo woke, fazendo coro com a grande imprensa, ecoando uma mesma visão de mundo, mercadológica e financista, e ainda se sentindo "revolucionário" por isso.
Revolucionário, de verdade, é afirmar que, apesar de nossas diferenças, compartilhamos uma identidade de brasileiros (atravessada também pela mestiçagem) e que essa é também, para nós, a razão de ser das Olimpíadas. Tal deveria ser o horizonte de construção do bem-comum no espaço da Nação, que gostem ou não, é a moldura que confere unidade à nossa diversidade.
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