Minas Gerais sempre marcou presença na história do Brasil. Escritores, cientistas, artistas, músicos, filósofos, cineastas... existe uma lista de nomes que se eternizaram no tempo e que constantemente são revisitados por aqueles que possuem interesse na história de nosso país.
Hoje falaremos não apenas de um nome, mas também do chão de terra em que ele surgiu.
Santos Dumont, antes chamada de Palmira e, ainda antes, Arraial de João Gomes, por conta da divisão das sesmarias no ano de 1728. Localizada na Zona da Mata Mineira, região de montanhas que produzem um ar dramático e melancólico no horizonte com leves pinceladas de sereno. Uma terra boa para o cultivo, prova disso são as feiras que acontecem semanalmente, onde os produtores da região, além de venderem frutas, legumes, verduras dos mais variados tipos, pães, biscoitos caseiros, doces, iogurte, o famoso pastel com caldo de cana e, obviamente, uma variedade de queijos que não pode faltar. Banhada por cinco rios, Pinho, Formoso, Paraibuna, Piau e Posses, Santos Dumont também possui belas cachoeiras não tão bem exploradas, onde ouvem-se muitos causos e sussurros de gelar a espinha. Uma das mais belas, com certeza, é a Cachoeira da Fumaça que se localiza no Distrito de Conceição do Formoso. Seu longo percurso de rochas o qual desemboca em uma bela cascata onde a água flui de maneira harmoniosa com a natureza.
Um céu limpo e azul que certamente foi feito de objeto imaginativo – e amor – por Alberto Santos Dumont, nascido em 20 de julho de 1873. Passou parte de sua infância na fazenda Cabangu, que hoje se tornou ponto turístico da cidade
Como muitos outros grandes nomes da história o fim de Alberto Santos Dumont também foi, de certa forma, trágico. Em 1931 foi internado na França com um estado delicado de saúde, mas logo depois voltou para o Brasil, onde se instalou em um hotel no Guarujá e fez contato com família e amigos. Em 1932, na Revolução Constitucionalista, o estado de São Paulo se revoltou contra o presidente Getúlio Vargas com o objetivo de derrubar o governo provisório. Em resposta a isso, Vargas ordenou que aviões atacassem o Campo de Marte. Provavelmente, tal tropa aérea sobrevoou o Guarujá e a visão de sua invenção ser usada para guerra e, inclusive, contra o seu próprio povo causaram uma angústia interna que levou nosso inventor até o lado mais escuro de seus pensamentos. Talvez aquela questão levantada por Pascal e Nietzsche em seus escritos onde o homem não é capaz de conviver com seu reflexo, de não conseguir voltar para o seu si mesmo, tenha assaltado Santos Dumont. A dor de ver sua extraordinária invenção que deveria conectar o mundo, ser usada como máquina de guerra... não era suportável. Em 23 de julho de 1932 Alberto Santos Dumont suicida-se aos 59 anos sem nenhuma nota.
Mesmo sem herdeiros diretos, sua herança de pensamento tornou-se patrimônio brasileiro estudado no exterior, o que revolucionou o campo das ciências. Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação... esse é o título de um brasileiro e ninguém conseguirá tirá-lo! Mas, acima de tudo, um sonhador que desde o berço já observava o céu e sonhava alcançá-lo, o que fez.
Sobre o nome Cabangu existem algumas hipóteses. Uma, de caráter bem folclórico e, de certa forma, cômico, seria a junção da frase “Acabou o angu”; a outra seria da própria etimologia da palavra originária do tupi-guarani “Caa”, mata, e “Bangu”, escura, juntando, “Mata Escura” (o que de fato ainda gera um sentimento de mistério e folclore).
Sua vontade – e angústia – de alcançar os céus desde garoto se impulsionou principalmente com as leituras de Júlio Verne. Estudiosos dizem que quando garoto gostava de observar os pássaros e estudar suas estruturas que permitiam alçar voo. Talvez, por muitas vezes gostara de se imaginar como um, livre e capaz de alcançar as nuvens. Ainda pequeno também, desenvolveu interesse pelas máquinas o que logo foi incentivado pelos pais Henrique Dumont e Francisca Santos Dumont. Aos 18 anos, mudou-se para França com o objetivo de completar seus estudos e talvez, efetivar seu sonho. Em 1898 construiu e realizou seu primeiro voo no Balão “Brasil”, talvez nome intitulado por amor e saudades da pátria e por daqueles que deixou. Apesar de seu primeiro balão ter realizado um ato magnífico, duas questões ainda o incomodavam: a propulsão e dirigibilidade. Para resolver tais questões, projetou seu “número 1”, um balão que possuía um formato similar à um charuto, que em seu interior já possuía hidrogênio e um motor movido à gasolina acoplado. Em 24 de março de 1900 com o incentivo do milionário Henri Deutsch de la Muerthe realizou o voo que entraria para história. O objetivo consistia em sair de Saint Cloud, contornar e Torre Eiffel e retornar em apenas trinta minutos, o que logicamente, foi feito com maestria por nosso memorável brasileiro. No ano de 1906 nascia o famoso 14-bis (nome que justamente demonstrava as tentativas do inventor) com 10 metros de comprimento e 4,8 metros de altura; o protótipo realizou o voo de 220 metros de altura do chão. O grande sonho de Santos Dumont de dar asas ao homem se realizou, mas não foi somente ao homem, mas também ao mundo!
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