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Foto do escritorAndré Luiz V.B.T. dos Reis

OVNIs: o Homem diante do Grande Desconhecido



Os OVNIs não saem da mídia e das redes sociais. São evidentes os vínculos do fenômeno com espionagem maciça em meio ao crescimento do conflito geopolítico, um elemento inevitável do fim do período de unipolaridade ianque que se estendeu pelas três décadas anteriores.


Mas os objetos celestes despertam no nosso imaginário terrores muito mais profundos de que estaríamos sendo observados e vigiados por forças ainda mais poderosas porque desconhecidas e de difícil acesso. Não os EUA, a Inglaterra, a China, a Rússia. Mas entidades capazes de portentos inimagináveis, e diante das quais seríamos nada mais que insetos.


Na sociedade tecnológica nascida da industrialização e do cientificismo, identificamos essa vigilância com visitantes intergalácticos. ETs que esperam pelo momento ou de nos guiar para um mundo de utopia cósmica importado de outras galáxias, ou roubar os recursos naturais dos quais dependemos para existir, quem sabe até surrupiar o planeta inteiro e exterminar a espécie humana.


Ambas as hipóteses remontam aos terrores do Imperialismo, são projeções nos "discos voadores" de atividades que tinham se tornado corriqueiras entre as diversas potências e polos geopolíticos da segunda metade do século XIX, e que levaram à europeização do mundo e a divisão do Sul Global em esferas de influências dos "Impérios". Não é por acaso que os OVNIs sejam arauto do novo mundo multipolar, que apesar de aguardado com esperanças renovadas por todos, traz também perigos imensos para os que dele participam.


Aliás, faz parte também da mitologia em torno dos extraterrestres o confronto entre diversas civilizações alienígenas. Estaríamos em meio a uma "Guerra dos Mundos". Os greys estariam interessados em experimentos genéticos e em roubar as mulheres. Seu objetivo é a inseminação artificial e uma espécie de eugenia. Já os Pleiadianos seriam humanoides parecidos com os escandinavos, doidos para disseminar o amor e a harmonia no Cosmos. Há outras teorias ainda mais beligerantes, como a da famosa obra "A Rebelião de Lúcifer", de Juan José Benítez, que insere a história religiosa cristã e o mito da Batalha nos Céus em um grande conflito interestelar parecido com o fenômeno pop ianque Star Wars.


Ora, os OVNIs refletem não só o Imperialismo cientificista do mundo contemporâneo, não apenas os conflitos geopolíticos intrínsecos à multipolaridade, mas são vivenciados com as cores e tons altissonantes da religião, inextrincáveis da experiência humana. O fenômeno logo gerou seus cultistas: grupos que promovem "canalizações" da Federação Galáctica que desejaria nosso bem, muito parecidas com as sessões espíritas também surgidas no século XIX, e que estariam prestes a inaugurar uma era de paz e entendimento [que provavelmente será unipolar, pelo tom das comunicações e a defesa de que o planeta se torne uma grande aldeia global comandada pelos "seres mais avançados" de outros orbes]. Analogias dos alienígenas com deuses e anjos, caídos ou não. Os mais ousados diriam até que os ETs são os criadores da espécie humana ou pelo menos de diversas civilizações antigas, resolvendo assim de modo fácil todos os problemas que a Arqueologia e a História enfrentam para abordar o passado longínquo.


Nesse sentido, a conexão dos OVNIs com dimensões de longuíssima duração, tais como as religiões e a vida espiritual, acaba por abarcar toda a história na mitologia cientificista e imperialista que vivemos atualmente. Ou então, ressignificar de maneira radical o próprio fenômeno dos objetos celestes voadores e da vigilância por entidades. Talvez eles transcendam a era tecnológica em que vivemos e não possam encontrar sua explicação nela. Os interpretamos como aparatos militares, ou como máquinas, porque nossa imaginação atual está focada neste parâmetros. Caso vivêssemos quatro ou cinco séculos atrás, a interpretação que faríamos seria muito diferente. Falaríamos de embarcações ou então de voo de bruxas, manifestações demoníacas, espíritos das florestas e das montanhas.


Seja como for, a intervenção dos OVNIs em nosso cotidiano demonstra a irredutibilidade da vida aos elementos passíveis de controle por nossos governos, por nossa ciência, por nossas armas. Forças sutis, "de outro mundo", aparecem e desaparecem, vigiam e aguardam, e quando menos se espera elas irrompem e, todos tememos, determinam o rumo dos acontecimentos. Diante desses poderes, nos sentimentos pequenos, frágeis e ignorantes. Nos sentimentos ameaçados. E buscamos novas formas de interagir com eles.


Os OVNIs, expressões de irrupções celestes, articulam uma série de elementos [culturais, políticos, geopolíticos, militares, históricos, antropológicos, religiosos] em torno de imagens de imensa profundida e repercussão na mente humana, cujas profundezas são moldadas pelo mito, pelo símbolo, pela intersecção de mundos. Eles nos recordam, em meio a todo nosso hedonismo e niilismo e materialismo, que os deuses e os demônios permanecem entre nós. E que se não tomarmos cuidado, acabaremos abduzidos, controlados, dominados, feitos de joguetes e marionetes dos interesses "transcendentes" desses poderes "alienígenas".

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