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‘Pod Generation’ opõe empoderamento feminino e liberdade reprodutiva

Num futuro próximo, a ciência reprodutiva permitirá que mulheres possam ter filhos sem a necessidade de um homem e por meio de uma gravidez extra-uterina. Por meio de "pods" (casulos), as mulheres estarão finalmente livres para dedicarem-se 100% às suas carreiras profissionais e, ainda assim, realizarem o desejo de serem mães. Esse é o argumento do filme "The Pod Generation", lançado em janeiro de 2023 no Festival de Sundance - traduzido no Brasil como "Geração do Futuro".




The Pod Generation versus Handmaid's Tale


Dirigido e roteirizado por Sophie Barthes, estrelado pela queridíssima "mãe dos dragões" Danerys Targarien Emilia Clarke e por Chiwetel Ejiofor ("12 anos de Escravidão"), a distopia reprodutiva funciona como um "oposto complementar" ao igualmente distópico "The Handmaid's Tale". Se, em Handmaid a "solução" encontrada para contornar a queda reprodutiva da humanidade foi a criação de uma teocracia tecnofóbica, aqui temos um caminho inverso: a tecnologia permite que as mulheres tenham filhos eventualmente sem um homem e sem necessariamente utilizarem seus úteros para a gestação.


Algoritimos e liberdade


O personagem de Emilia Clark, Rachel é uma workaholic que deseja ter filhos e é, ao mesmo tempo, incentivada e pressionada pela empresa em que trabalha para assinar um contrato com a "womb center" (uma "central do ventre") para ter um filho sem usar o seu próprio útero. Já seu marido, Alvy, é um botânico que luta para que seus alunos restabeleçam a conexão com a natureza, algo perdido naquela sociedade tecnocrática onde as decisões são todas algorítmicas.


A mulher é evidentemente a "empoderada" do casal, sendo que é ela quem mantém financeiramente a casa. Contudo, na honesta interpretação de Emília, percebe-se sua incapacidade de tomada de decisões. É uma serva dos algoritmos, que decidem por ela. Já Alvy, o botânico lascado de camisetas gastas, ao contrário, é decidido e, embora relute em utilizar os pods, demonstra ser capaz de tomar decisões e estabelecer conexões legítimas, a despeito da barreira tecnológica.


Alerta de Spoiler


Em uma das cenas do filme, um grupo de feministas protesta em frente ao "Womb Center" ou "Centro do Ventre" para que "valorizem o nosso útero", no que Alvy pergunta: "Mas não foram justamente as feministas que lutaram pela liberação do útero pela tecnologia"?


Tudo vai muito bem na gravidez ‘extra-uterina’ de Rachel até que, em dado momento, a empresa deixa claro que embora o filho "pertença" ao casal, o "pod" é propriedade da empresa, o que retira a autonomia do casal sobre a gestação e parto.


Conclusão


O papel das distopias é justamente extrapolar uma rota atual e imaginar ou prever o que pode dar errado. No caso, "The Pod Generation" funciona muito bem ao imaginar precisamente o que poderia dar errado no modelo do "empoderamento feminino", que, em seu extremo, pode significar justamente a perda do papel biologicamente determinado de se gerar filhos e, se isso pode parecer uma libertação, ao mesmo tempo representa também um maior comprometimento e perda de autonomia perante o sistema das grandes empresas de tecnologia reprodutiva.



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